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Marco Antonio Alasmar

Diretor de Açúcar, Etanol e Bioenergia da ISA – International Society of Automation

OpAA73

Automação e transformação digital
A transformação digital não é mais um diferencial competitivo, é uma necessidade para qualquer tipo e porte de empresa ou segmento industrial. Em uma definição simples, a transformação digital está relacionada ao uso de tecnologias adequadas ao tipo de atividade e negócio, portanto deve ser analisada por profissionais da área e/ou consulta e interpretação de normas para conduzir investimentos financeiros e de tempo na direção correta.
 
Por outro lado, apenas tecnologia não basta, e é aqui que começa o maior desafio. As inovações tecnológicas devem ser interpretadas como meio e não como fim, definindo corretamente quais modernizações de processos e ferramentas são necessárias e quais os resultados esperados.
 
Transformação digital representa transformação cultural, sendo necessário que a empresa tenha agentes especializados para propagar, treinar e multiplicar conhecimentos nessa área, sem perder a cultura e a memória técnica da empresa. Quem faz a transformação digital são as pessoas, através de novos modelos mentais e mudanças culturais.
 
O ponto inicial nos investimentos da transformação digital são as decisões estratégicas e de negócios relacionados diretamente com os objetivos da empresa. Importante avaliar se a estrutura do sistema de controle da empresa cumpre com os requisitos mínimos para evoluir tecnologicamente, se todo o potencial de controle e desenvolvimento de estratégias foram implementadas, se o sistema está preparado para responder aos comandos de decisões hierarquicamente superiores.
 
Segundo Helder José Celani de Souza, Diretor de Healthcare da ISA, a automação usualmente refere-se a reduzir as intervenções humanas para executar uma determinada atividade, transitando pelas categorias totalmente manual, semiautomática ou totalmente automática. A área de tecnologia da informação (TI) não aparece no cenário dos negócios até meados do século XX, quando, então, inicia sua jornada atrelada às novas tecnologias. 

Muito provavelmente, por esse motivo, automação industrial e a tecnologia da informação caminharam em paralelo, isto é, com abrangência do chão de fábrica e da gestão corporativa do negócio. A área de automação e transformação digital segue uma estratégia fundamentada nos pilares de produtividade, flexibilidade e agilidade, cuja visão, em geral, não distingue os setores produtivos.

Este artigo traz uma reflexão sobre a tomada de decisão dos investimentos em automação e transformação digital para ser avaliada pelas partes interessadas do setor sucroenergético. Trata-se do desafio de percorrer os caminhos corretos e eliminar defasagens tecnológicas e de conhecimentos que impactam a execução de projetos de alta tecnologia no setor, com objetivo de aumentar a probabilidade de sucesso deles. A reestruturação das empresas, do modelo centralizado para distribuído, a jornada da Indústria 4.0 iniciada na Alemanha, a mentalidade ágil nos negócios e nas metodologias e a revolução tecnológica em curso têm pressionado os dirigentes para agir de imediato, sob pena de perder competitividade. 

Muitas vezes, essa pressa, sem um plano diretor, sem análises profundas do estado corrente da empresa, tem precipitado investimentos com curto ciclo de vida, ou, como em muitos casos, fracassado, sem chegar ao resultado esperado. Isso posto, os pontos a seguir são propostos para tal reflexão antes da tomada de decisão de tais investimentos.  

O primeiro tópico de reflexão é a identificação do ponto de partida e dos critérios de definição de prioridades das demandas em andamento. Aqui há o risco de se optar por uma estratégia tipo Full Waterfall, diante de uma jornada inovadora de alta incerteza, em ambiente complexo, com ausência de mentalidade ágil e sem aprofundamento do estado atual da empresa.   

O segundo é ignorar a conexão da automação com os objetivos amplos do negócio. Nesse instante, há o risco do “passo maior que a perna”, seja referente a investimento em tecnologia sem a infraestrutura adequada, ou um investimento em um projeto sem o mapeamento prévio preciso dos processos, ou ainda a aplicação de uma visão local e não ponta a ponta do negócio. 

O terceiro é subestimar a criação de valor para os indivíduos, focando apenas a organização. O fator humano é crucial para o sucesso de projetos de automação e transformação digital, o que demanda uma gestão de mudanças intrínsecas a todos os projetos.

O quarto é não desprezar, mas reconhecer e abordar os impactos na execução do trabalho antes e depois da implantação. De acordo com uma pesquisa realizada mundialmente pela PwC, 60% de um total de 32.500 trabalhadores entrevistados dizem estarem preocupados com o fato de a automação colocar em risco seus empregos. 
 
O quinto é a falta de estabelecer uma base de medição de resultados. Quantas vezes observamos, na prática, um investimento de melhoria de um processo que não definiu uma linha de base para comparar os resultados futuros pós-projeto. Por último, o sexto tema de reflexão é a ausência da equalização da automação com os projetos de melhoria. 

A estratégia não deve simplesmente questionar “onde podemos automatizar?”, mas “onde podemos melhorar?” Automatizar apenas por modismo ou modernização inconsequente é perda certa para as empresas. Por outro lado, se o objetivo é aprendizado e experimentação, siga com um piloto de curta duração e baixo investimento, contudo com uma análise robusta dos resultados.
 
O Eng. João Bassa, vice-presidente da ISA-Campinas, ressalta que a ISA tem, hoje, mais de 4.000 voluntários envolvidos em mais de 140 comitês, subcomitês, grupos de trabalho e forças-tarefa focados no desenvolvimento de normas e orientações em áreas diversas da automação, desde garantir a segurança dos equipamentos, passando pela adequada implementação dos sistemas, até como visar à economia de custos para interfaces entre computadores de controle de processos e seus subsistemas.

A adoção das normas padronizadas comprovadamente auxilia as empresas a mitigar riscos e obter maior eficácia em um ambiente economicamente sustentável, permitindo que os recursos sejam usados de forma mais eficiente e lucrativa. 

Em particular, a ISA tem um grupo dedicado à Manufatura Inteligente e Internet das Coisas, cujos principais objetivos são fornecer clareza em torno desses assuntos em constante evolução, desenvolver conteúdo técnico útil, desenvolver abordagens padronizadas para resolver problemas críticos e fornecer um fórum para relacionamento e colaboração. 

O foco desse grupo é evoluir continuamente para se adaptar ao alto nível de atividade e interesse em toda a comunidade mundial, dado o desenvolvimento constante de novas tecnologias, novos aplicativos e novos conceitos na maioria dos principais fabricantes de hardware, fornecedores de soluções, empresas, instituições de pesquisa e até mesmo agências governamentais.