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Bruno Rangel Geraldo Martins

Presidente da Coplana, Cooperativa Agroindustrial

OpAA78

Sucessão familiar nas empresas agropecuárias modernas
A sucessão familiar em empresas modernas, particularmente no setor agropecuário, desempenha um papel vital na garantia da continuidade e do sucesso a longo prazo desses empreendimentos. Nós, como cooperativa, temos trabalhado para apresentar esse tema aos nossos cooperados e orientá-los para que esse processo possa acontecer de maneira natural e suave, o que muitas vezes pode ser difícil nos ambientes familiares.
 
É um processo complexo que envolve diversos desafios e está em constante evolução. Nesse artigo, falaremos sobre técnicas, abordagens e experiências que têm moldado o processo de sucessão familiar na região de atuação das nossas organizações e como elas podem ser aplicadas com sucesso.
 
Hoje, atuamos fortemente no nordeste paulista, compartilhando esforços entre três importantes organizações: a Coplana – Cooperativa Agroindustrial, a Socicana – Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba, e o Sicoob Coopecredi – Cooperativa de Crédito, todas com sede na cidade de Guariba-SP. 

Trabalhamos no fomento, assistência técnica e serviços financeiros para cooperados e associados que trabalham com as culturas de cana-de-açúcar, amendoim e soja. O processo sucessório nas organizações sempre aconteceu de forma natural, em média, a cada seis anos, quando é alternado o papel do líder principal. Investimos em capacitação de jovens líderes, visando a continuação do negócio e a difusão dos ideais cooperativistas para o desenvolvimento da comunidade e da região a qual está inserida.

Batizamos esse trabalho de Ecossistema Guariba de Produção, visando o desenvolvimento e crescimento dos associados. Recentemente, na Coplana, fizemos um estudo amplo para analisar o perfil dos nossos cooperados e o que pensam em relação à continuação da atividade agropecuária. Ao analisar os primeiros dados coletados, nos deparamos com a informação de que mais de 60% dos nossos cooperados possuem mais de sessenta anos. Essa informação nos trouxe um alerta em relação à continuidade desse produtor e seus descendentes na atividade. Diante desse fato, nos unimos no intuito de pensar sobre a sucessão fora das organizações e auxiliar os nossos associados para começarem a agilizar esse processo. Foram feitos diversos eventos relacionados ao tema e, também, um curso capacitando esses produtores para avançarem nos trabalhos.

Sem ser diferente do que acontece em empresas, os produtores nos trouxeram diversos desafios, os quais foram discutidos individualmente e em grupo durante o trabalho. Alguns deles nos chamaram mais a atenção, os quais tomarei a liberdade de explorar nesse artigo, quais sejam: transferência da gestão, divisão dos rendimentos e transferência patrimonial.

Quando pensamos na transferência de gestão, que seria o início da sucessão familiar propriamente dita, é fundamental que o atual gestor aceite que esse processo deva acontecer. Assim sendo, faz-se necessária a identificação do sucessor, membro da família ou profissional de mercado mais adequado para liderar a empresa. A escolha deve ser baseada na competência, paixão pelo negócio e habilidades de liderança, não apenas na hierarquia familiar.

É importante, também, um plano de desenvolvimento para esse líder. Preparar o sucessor é fundamental, e envolve um plano de capacitação que pode incluir educação formal, treinamento prático e  mentoria. É salutar que a transição seja gradual, não abrupta. O líder em exercício deve trabalhar ao lado do sucessor por um período, para garantir uma transição suave e permitir que o sucessor ganhe experiência. Tudo isso, baseado fortemente na comunicação aberta entre todas as partes envolvidas. A família e os funcionários devem entender o processo e seus papéis nele.

Consolidado o papel da nova liderança, adiante falaremos sobre a importância de organizar a divisão dos rendimentos. Esse tema é bastante sensível e, frequentemente, causa um ponto de tensão na sucessão familiar. 

A transparência e a equidade são cruciais para mitigar conflitos. É aconselhável ter um acordo formal que estipule o compartilhamento
equitativo dos proventos entre os membros da família. Esse documento deve ser claro e revisado por profissionais legais e financeiros. Para tanto, devem ser adotados critérios justos e transparentes, responsabilidades e investimento financeiro na empresa.

Visando a segurança do processo, é necessário fazer uma provisão para divergências, mecanismo esse que visa resolver disputas e conflitos que possam surgir, relacionados à divisão da renda, acompanhado de revisões periódicas para refletir as mudanças nas circunstâncias da empresa e da família.

Diante do exposto, e falando sobre patrimônio, é importante considerarmos a forma que será feita a transferência patrimonial para os envolvidos. Talvez seja essa a etapa final do processo de sucessão familiar, considerando as outras fases citadas anteriormente. Ela envolve a transferência de ativos e propriedades da geração mais velha para a mais jovem.

Fazer um planejamento tributário é essencial para planejar a transferência de ativos de forma a minimizar as obrigações fiscais. Isso pode envolver a criação de apropriadas estruturas de propriedade e a utilização de estratégias fiscais. Uma avaliação profissional e isenta desses ativos é importante para determinar seu valor justo, o que pode ser usado para a distribuição equitativa entre os herdeiros, sempre considerando medidas para proteger o patrimônio, como a criação de um fundo de reserva ou a definição de políticas de uso desses ativos. Os herdeiros devem ser educados e capacitados sobre o valor e a gestão dos ativos recebidos, para garantir sua preservação e crescimento.
 
Finalizando, mais uma vez chamo a atenção para a comunicação. A transparência é vital para alinhar expectativas e minimizar conflitos. As empresas modernas incentivam o diálogo constante entre todas as partes envolvidas na sucessão. Isso pode envolver a criação de acordos de família que estabeleçam, de forma clara, as regras e responsabilidades. A sucessão familiar é um processo complexo que requer planejamento cuidadoso e a colaboração de todos os membros da família envolvidos. A transferência da gestão, a divisão dos rendimentos e a transferência patrimonial são partes interligadas desse processo. A busca de aconselhamento profissional e a comunicação aberta são essenciais para garantir uma sucessão bem-sucedida que preserve o legado da empresa e mantenha a harmonia na família.