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Edivaldo Domingues Velini

Professor de Controle de Plantas Daninhas da Unesp-Botucatu

OpAA73

Inovação em formulações de herbicidas
Inovar é desenvolver e aplicar novas ideias e conceitos. As inovações podem ser radicais quando ocorre uma mudança drástica no modo de produção ou consumo de um produto ou serviço. Quando se trata da proteção de plantas, as principais inovações radicais são os novos ingredientes ativos ou novos genes de resistência. As inovações radicais são complexas, têm alto custo, demoram a ser desenvolvidas e, por atenderem a mercados globais, precisam passar por processo de aceitação ou liberação de uso em escala mundial.
 
Quando há a melhoria contínua nos produtos, processos ou serviços, ocorre a inovação incremental. As inovações incrementais resultam da reorganização do conhecimento existente e têm como objetivo atender a demandas locais ou regionais específicas. 
 
Algumas vezes, podem ser desenvolvidas soluções customizadas para clientes específicos. Em termos de proteção de plantas, as inovações incrementais podem corresponder a uma nova formulação, uma mistura de ingredientes ativos, ao ajuste mais preciso da dose ou momento de aplicação, novos equipamentos ou técnicas de aplicação e uma série de outras tecnologias. 

O lançamento de novos ingredientes ativos (inovações radicais) desacelerou muito nas últimas décadas. No Brasil, o processo de registro dessas novas substâncias ainda pode atrasar, em vários anos, a disponibilidade para os produtores. 

Para atender às necessidades do mercado, as empresas têm desenvolvido formulações altamente inovadoras, que têm conseguido resolver muitos dos problemas mais relevantes e urgentes em termos de manejo de pragas, doenças e plantas daninhas. São exemplos de desenvolvimento recentes quanto a formulações: inseticidas ou fungicidas que são misturas de compostos que atuam em diferentes sítios de ação; tecnologia de encapsulamento dos ingredientes ativos; uso de componentes mais seguros; uso de componentes, adjuvantes ou técnicas de aplicação que reduzem as perdas por deriva; desenvolvimento de soluções específicas para contornar limitações do próprio ingrediente ativo como sensibilidade a fotólise ou volatilidade. 

O que se tem intensificado nos últimos anos é a “tropicalização” das formulações de defensivos agrícolas, com destaque para os herbicidas. No Brasil, praticamente todos os principais sistemas de produção de culturas anuais ou perenes têm o solo coberto com palha, exigindo que os herbicidas de pré-emergência tenham a capacidade de passar pela camada de palha e atingir o solo para que possam ter eficácia. 

Em regiões tropicais, a incidência de radiação ultravioleta também é muito alta e aumenta o potencial de fotodegradação quando os herbicidas são mantidos na superfície do solo ou da palha.

O desenvolvimento de formulações com menores perdas por volatilização talvez seja a demonstração mais clara da competência dos desenvolvedores de formulações atuando no Brasil e da contribuição das novas formulações para a produção sustentável e com menores riscos para os aplicadores, consumidores e para o meio ambiente. 

No caso dos herbicidas de pós-emergência 2,4-D e dicamba, foram desenvolvidas formulações com novos adjuvantes, sais (efetivamente cátions acompanhantes dos herbicidas que são ânions) e ajustes de pH que praticamente eliminaram as perdas na forma de vapor. Em termos de uso de herbicidas de pré-emergência, destaca-se o desenvolvimento de formulações encapsuladas pendimethalin e, principalmente, do clomazone, um herbicida graminicida de amplo uso em cana-de-açúcar por mais de três décadas.

O clomazone é medianamente volátil, e parte do herbicida pode ser perdida na forma de vapor e transportada para áreas vizinhas, implicando risco para culturas sensíveis. O uso de formulações encapsuladas praticamente elimina as perdas por volatilização. Em contato com o solo, as cápsulas de clomazone se rompem e liberam o herbicida em alguns dias.

Mas o mais surpreendente é que as formulações encapsuladas que foram desenvolvidas para reduzir a volatilidade também se mostraram úteis para reduzir a absorção pelas folhas da cana-de-açúcar, aumentando a seletividade e para aumentar o transporte do herbicida da palha ao solo pela água de chuva. Quando se usam formulações convencionais de clomazone, cerca de um terço atinge o solo após a ocorrência de chuvas. No caso das formulações encapsuladas, praticamente todo o herbicida pode ser carregado pela chuva até o solo. As quatro formulações de clomazone encapsulado disponíveis no Brasil são efetivas em reduzir a volatilidade, mas apresentam algumas diferenças em termos de absorção pelas folhas e passagem pela palha. 

A rápida aceitação dessas formulações pelo mercado comprova a grande contribuição que representam para a produção sustentável.
Igualmente notáveis têm sido os avanços no desenvolvimento de formulações, adjuvantes e técnicas de aplicação que reduzem a deriva. 

Apenas a parte do defensivo agrícola que deposita no alvo realiza o controle. Por outro lado, a deriva contribui para a contaminação do ambiente, de áreas vizinhas e dos aplicadores. Ao nível de formulações, é possível utilizar componentes que permitem reduzir a formação de gotas sujeitas à deriva, retardar a evaporação, aumentar a deposição, por exemplo. 

Em termos de tecnologia de aplicação, a redução dos movimentos horizontais e verticais da barra de aplicação, a redução da altura da barra, com o cuidado de não comprometer a uniformidade da aplicação, a seleção das pontas de pulverização, o ajuste das condições operacionais e o uso correto de adjuvantes podem permitir a realização de aplicações mais eficazes e seguras, além da ampliação dos intervalos em que as aplicações podem ser feitas, considerando as limitações impostas por ventos, temperatura e umidade relativa.

A uniformidade da aplicação com a menor variação possível das doses no campo também tem sido um objetivo no desenvolvimento de novas formulações. Estudos recentes têm demonstrado que as doses pontuais podem variar de 50 a 150% da dose média observada, causando falhas de controle e intoxicações da cultura. Os movimentos e a altura da barra, a distribuição e espaçamento das pontas e a uniformidade de distribuição dos ingredientes ativos na solução de aplicação são as principais determinantes da uniformidade ou desuniformidade das doses no campo. 

Desenvolver formulações estáveis no tanque e que contribuem para a uniformidade das doses no campo se tornou uma preocupação obrigatória para os que desenvolvem formulações.

O desenvolvimento de inovações passa obrigatoriamente por quatro etapas: a identificação do problema; o desenvolvimento da solução; a produção das informações que demonstram as vantagens da inovação desenvolvida e o uso da inovação na geração de benefícios e produção de riquezas. 

Se o Brasil ainda não conseguiu alcançar a densidade de conhecimento necessária para descobrir novos ingredientes ativos, possui redes de profissionais extensas e complexas, que praticam cotidianamente os conhecimentos agronômicos. Temos sido capazes de desenvolver, avaliar e utilizar formulações inovadoras que contribuem para o manejo sustentável de pragas, doenças e plantas daninhas.